segunda-feira, dezembro 06, 2004

“Cadernos do Subterrâneo” de Fiódor Dostoiévski

“E como é bom, depois de uma discussão, fazer as pazes, acusar-se a si mesma, ou, então, perdoar. É tão bom para ambos, sentem-se os dois tão bem, de repente, como se acabassem de se encontrar de novo, de se casar de novo, como se o seu amor recomeçasse. Ninguém, mas ninguém, deve saber o que se passa entre eles, entre marido e mulher, se se amarem. Podem ter grandes brigas, mas nem à própria mãe devem pedir para servir de árbitro, dizer o que se passa. São eles os árbitros de si próprios. O amor é um mistério de Deus, deve ser tapado aos olhos dos outros, em todas as circunstâncias. Torna-se mais sagrado por isso, torna-se melhor. As pessoas respeitam-se mais – e tantas coisas se baseiam no respeito! E se à partida existe amor, se as pessoas se casarem por amor, por que diminuiria esse amor? Não haveria maneira de o salvar? É muito raro não haver salvação para o amor.”


“O primeiro amor, o dos recém-casados, pode passar, claro, mas sucede-lhe outro amor, melhor. Nesse amor dá-se o encontro dos corações, põe-se tudo em comunhão; deixa de haver segredos entre os dois. Depois vêm os filhos e então todos os momentos, mesmo os mais difíceis, parecem sempre de felicidade; só amar e ter coragem. Até o trabalho se torna alegre; chega a tirar-se o pão da nossa boca para o dar às crianças, e até isso é uma alegria. Porque eles te amarão, depois, por isso; portanto estás a pôr de lado para ti. As crianças crescem e sentes que és um exemplo para elas, o amparo delas; que, se morreres, toda a sua vida elas trarão consigo os teus pensamentos, os teus sentimentos, porque os receberam de ti, fazem-se à tua imagem e semelhança. Trata-se, pois, de um grande dever. Como poderiam pai e mãe não se aproximar ainda mais? Dizem que é difícil criar os filhos. Mas quem pode dizer uma coisa dessas? Eles são uma bênção do Céu!”

sábado, dezembro 04, 2004

A dor de Jesus

Muitas coisas vêm acontecendo na minha vida, quase todas elas normais, vulgares. Precisava de estar activa mais horas, para ter tempo para tudo. Mas tal não é possível. Nada feito. Todas estas preocupações são insignificantes quando comparadas com o sacrifício que Jesus fez para nos salvar. Pior, fez uma prova de amor por quem não merecia. Nós, seres tão pecadores não merecemos o sofrimento de Jesus e contudo continuamos a ser para ele motivo de tristeza. As guerras que nunca acabam. Os conflitos que emergem. Os pobres que estão cada vez mais pobres. Os ricos que enriquecem. O pão que é uma miragem para uns, deitado ao lixo por outros. As crianças abandonadas. Os velhinhos esquecidos. As almas perdidas nos vícios, na droga , no álcool. As palavras que ferem como espadas. Os mimos que não chegam ou se excedem no egoísmo. Os doentes. Os que sofrem diariamente, por injustiça, por crueldade, por solidão. Aqueles que esperam inertes a hora da morte. E a incerteza no que virá depois.

Porque não nos vêm avisar? Porque não se desvenda o mistério? Deus terá as suas razões. As nossas dúvidas são uma pequena dor quando comparadas com o que Jesus sofreu por nós. Sinto-me indigna de pedir mais coisas a Deus, quando ele já fez o máximo, quando ele me dá, todos os dias, força e coragem para continuar a lutar, a viver com alguma dignidade, com alguma felicidade. Nunca pior. Reclamar do quê, quando tenho tudo para ser feliz? Tenho uma família que me ama, faço coisas de que gosto... Meu Deus, aquilo que tens para me dar a mais, dá-o a quem precisa mais do que eu. Agradecer é o mínimo que posso fazer. Obrigada!

sexta-feira, dezembro 03, 2004

Mais um dia sem ti

Mais um dia que passo sem ti, sem saber por onde andas, onde paras, o que fazes. Mais um dia ansiosa por saber o teu nome, conhecer o teu rosto, sentir o teu cheiro. Mais um dia sem ouvir a tua voz, sem te olhar nos olhos e dizer que te amo. Mais um dia sem te beijar, sem sentir o calor do teu abraço, sem te afagar o cabelo. Mais um dia em que me sinto só, tristonha e cheia de saudades tuas. Mais um dia em que reclamo a tua existência, desespero pela tua ausência, suplico para que apareças e me venhas salvar montado no teu cavalo branco.
E nesta noite em que a lua cheia espreita pelo nevoeiro, eu fico aqui desolada, na minha cama, rezando para que um dia possas estar aqui a meu lado e me faças sentir quente e segura. E, nesse dia, não haverá nem nevoeiro nem luar que me prenda a atenção, pois ela estará toda centrada em ti.

Escuto, no silêncio da noite, a tua voz, o som que emana das estrelas e chega até mim sob a forma de uma bela melodia. Fazes com que se aproxime de mim o cântico dos deuses, para que eu fique mais calma e tranquila. Ao longo desta longa espera, sei que caminhas na minha direcção e que os nossos destinos se hão-de cruzar para sempre. Mesmo depois da morte, tu estarás comigo e eu estarei contigo, por toda a eternidade. E esta melodia que tu conduziste pelo negrume da noite ficará comigo até que eu ta possa entregar e agradecer.