quinta-feira, abril 27, 2006

"Olhos"

Impressão Digital

Os meus olhos são uns olhos,
e é com esses olhos uns
que eu vejo no mundo escolhos,
onde outros, com outros olhos,
não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos, diz flores!
De tudo o mesmo se diz!
Onde uns vêem luto e dores,
uns outros descobrem cores
do mais formoso matiz.

Pelas ruas e estradas
onde passa tanta gente,
uns vêem pedras pisadas,
mas outros gnomos e fadas
num halo resplandecente!!

Inútil seguir vizinhos,
querer ser depois ou ser antes.
Cada um é seus caminhos!
Onde Sancho vê moinhos,
D.Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos!
Vê gigantes? São gigantes!

António Gedeão
in "Movimento Perpétuo", 1956

quinta-feira, abril 20, 2006

Memórias

Olho inerte pela janela do meu quarto. O sol ilumina a minha aldeia. Vejo carros a passar. Inúmeras memórias trespassam-me pela mente. Memórias do passado. Memórias de um tempo que não vivi. Memórias de um outro mundo, de uma outra vida. A memória que mais se intensifica é a de um ser que não conheço, que perdi algures no tempo, talvez mesmo antes de o conhecer. Sinto que a minha missão se preenche de memórias que me indicam o caminho a seguir. Sinto que o meu passado me trouxe até aqui com uma finalidade, com um novo ser, mais confiante, mais segura da sua missão, apesar de ainda não saber pormenores sobre a mesma.

Procuro-te mas não te encontro. Tento descobrir onde estás, mas não consigo. Temo que estejas longe e não me venhas buscar. Este desespero por te perder mesmo antes de te encontrar torna-me mais amarga, mais inflexível ou apenas mais racional. Amar alguém por solidão ou carência não me leva a lado nenhum. Amar alguém que não sejas tu é caminhar para a minha própria decadência.

Vejo rostos tristes e amargurados. Pessoas que clamam por uma oportunidade, por uma alegria mas só encontram a dor. Pessoas que morrem desesperadas. Pessoas que não conseguem ver uma luz na imensa escuridão que atravessa as suas vidas. Quero agarrar as mãos dessas pessoas, segurar-lhes e puxar-lhes para um mundo melhor, mas não consigo porque elas se afastam cada vez mais enquanto clamam por socorro. Sinto-me angustiada por não poder fazer nada, nem mesmo consigo levantar a voz e pedir ajuda a Deus. Não quero que essas pessoas sofram. Quero que elas tenham uma oportunidade para agarrar a vida. Quero que elas sejam felizes. Quero que elas voltem a sonhar e a lutar por alguma felicidade. Sinto-me agoniada por nada poder fazer, nem uma palavra de esperança posso dizer. Nada. Nada mesmo.

E é nesta hora, neste momento, que te encontro a ti, meu amor, desolado como eu mas sempre a caminhar. Paras para me dar a mão, levantas-me, limpas-me as lágrimas e impeles-me a seguir-te. Sem hesitar sigo-te, mas olho para trás em busca de um gesto que me anime. Todavia, olhas-me fixamente e pedes-me para não olhar para os que ficaram, os que não podem mais voltar, porque não vale a pena, por muito que nos custe. Confirmo-te com o meu olhar, aperto a tua mão com mais força e imploro-te para que não me abandones num momento tão difícil.

Caminhamos ao mesmo nível, sempre em frente, sem atalhos, sem obstáculos, em direcção ao futuro. Ouço ao longe gritos de socorro, talvez as pessoas que tentei ajudar e não consegui. Choro compulsivamente. Tu também. Não podemos fazer nada e é esta inaptidão, esta incapacidade que nos revolta. Sabemos que se voltarmos para trás nos vamos perder, vamos deixar de ter futuro, não vamos fazer nada de positivo.

Quando alcançamos a estrada, o caminho certo, o caminho da vida e do futuro eterno, não resistimos a um abraço apertado, sofrido, como se só nos tivéssemos um ao outro, como se o resto do mundo tivesse desaparecido, num choro desenfreado.

Olhamos à nossa volta e não vemos ninguém. Tememos que não haja ninguém perto. Os que existiam ficaram para trás e não vão voltar. Os campos estão devastados. Há destruição por todo o lado. Sente-se no ar o cheiro a queimado. Uma catástrofe. Uma guerra. Sabemos apenas que não podemos parar de caminhar, não podemos ficar para trás.

Agora que encontramos o caminho certo seguimos com mais calma, sem nos separarmos, com medo de também nos perdermos. Não conseguimos dizer uma palavra, tão emocionados que estamos. Falamos apenas pelo olhar, pela expressão do nosso rosto, pela respiração, pela força com que apertamos as mãos.

Quando alcançamos uma povoação intacta, não escondemos a alegria de não sermos os únicos, de ainda haver esperança. Esboçamos os primeiros sorrisos. O primeiro beijo. A primeira alegria. Muitas pessoas nos cercam, nos abraçam, mesmo sem nos conhecer. A guerra não chegou ali. Prometemos ficar uma vida e ficámos. Durante longos anos fomos um do outro, completávamo-nos mutuamente, sem nunca nos separarmos. Um amor eterno.

De repente, dou-me conta de que estou noutra vida, noutro local, noutro mundo. E sem ti. Sem te conhecer. Busco em cada rosto um sinal teu. Há muitos traços em diferentes seres, mas nenhum és tu. Se fosses tu eu já te teria reconhecido. Vivo com outras lutas, outras pessoas. Mas não consigo viver sem ti. Não suporto a tua ausência. Onde estás tu, meu amor? Será que algum dia te vou encontrar? Será que cabes nesta vida, neste mundo? Serias tu incapaz de voltar a seguir o caminho, pela estrada certa, sem olhares para trás? Serias tu capaz de me reconhecer e voltar a pegar na minha mão para não mais a largar? Serei eu enganada ao acreditar que vais voltar, que vais ficar sempre ao meu lado? Mas se não existisses por que sentiria eu tanto a tua falta? Por que seria tão difícil de suportar esta saudade? Terás tu seguido um caminho que não te leva a mim?

Apenas sei que cada dia que passa, a dor da tua ausência me consome. A esperança se desvanece. Sinto que tenho de aprender a viver sem ti, como tu próprio me fizeste prometer um dia, caso eu não te encontrasse. Só a promessa que te fiz, a força da minha missão me fazem acreditar que vale a pena continuar a caminhar.

Sandra Bastos

"Sensibilidade e Bom Senso" - crítica literária II

"Entre negar e afirmar, o drama, o tema fecundo. A prudência que Elinor defende faz intervir, entre a interioridade e o comportamento, entre a sensibilidade e as sua expressão, um factor, (chamemos-lhe bom senso, decoro social e moral, e admitamos que é necessário para evitar que os seres humanos sofram, ou demos-lhe o nome de ambição, de interesse pelo dinheiro e pelo estatuto da sobre-classe, e condenemo-lo) a que Marianne com toda a pertinência dá o nome de mundo e no qual localiza o seu infortúnio e a derrota do seu amor por Willoughby. Elinor admite, sanciona e valoriza este elemento social, claramente de experiência social, que intervém entre o interior e a exterioridade, e que para ela é prudência, sensatez - sabemo-lo desde o começo do romance - , que deve conter, disciplinar, limitar a expressão da verdade íntima, do movimento livre da interioridade humana. E não se dá conta de que deste modo nega a espontaneidade da vida interior dos seres humanos e a substitui por uma clara regulação social e racional que comporta os valores que defende e ao mesmo tempo os aproxima perigosamente dos valores que um John Dashwood, uma Mrs Ferrars, uma Lucy Steele promovem.

Marianne cultiva a sensibilidade, faz intervir entre a interioridade e o comportamento, a vida emotiva e a sua expressão, a convencionalidade e o culto das convenções da poesia e da música em voga, sentimentais e pré-românticas, factores a que também com toda a pertinência daremos o nome de mundo. Mas nesta poesia e nesta música pulsa, no romance, e pela verdade de Marianne, uma necessidade humana, a aspiração e o ideal de uma vida humana isenta de deturpações e dos constrangimentos que a sociedade impõe aos seres humanos. (...)

John Dashwood e Robert Ferrars têm discursos fáceis e ocos, vazios de identidade subjectiva - não se exprimem na sua língua, é a língua como expressão da consciência social que se exprime neles; Sir John Middleton diz com facilidade as banalidades e truísmos de um convívio que não discrimina qualidades humanas sob as máscaras dos papéis sociais; Thomas Palmer parece aproximar-se de Edward pelos silêncios e reticências, mas a romancista não nos deixa dúvidas quanto às diferenças radicais entre a convicção de superioridade intelectual do primeiro e a superioridade cultural genuína do segundo.

Willoughby e Brandon revelam traços linguísticos comuns, apesar das diferenças entre eles - são eles que usam a língua comum para se contarem e longamente explicarem a Elinor, e a verdade é que esas explicações produzem nela e em nós o efeito superficial de compreensão interpretativa que assinala o uso predominantemente racionalista que a protagonista faz da língua inglesa. (...)

Sense and Sensibility não é ainda um grande romance austeniano. A grandeza artística viria nos romances seguintes, e já com uma apreciável mestria em Pride and Prejudice. Mas é um bom romance inglês - pela criatividade, pela disciplina, pelas novas possibilidades abertas para a arte do romance, pelas novas possibilidades abertas para uma inteligência humana da vida."

Álvaro Pina, em "Jane Austen"

"Sensibilidade e Bom Senso" - crítica literária I

"(...) Jane Austen diferencia e problematiza os significados e a importância do dinheiro e da riqueza no seio de duas famílias e para persongens diferenciadas, e assim coloca no romance os significados e a importância do dinheiro como uma questão central do seu enredo. [Jane Austen] diferencia e problematiza valores culturais da arte e do gosto, e do convívio social, à luz e em termos de personagens individualmente diferenciadas, e assim coloca no romance significados e a importância da educação e da cultura como questão central do enredo.
(...)
Ao encontro do que está no âmago da sua sociedade e da sua cultura, dos valores e das normas que regulam a existência e o convívio humanos em sociedade, mas antes de mais ao encontro do nexo de unidade e diferença entre os seres humanos e a sociedade a que pertencem, o romance de Jane Austen segue o rumo de descoberta do mundo e de si das suas persongens principais. Jane Austen adopta, para tanto, a convenção da protagonista que o é por ser jovem, se apaixonar e no final casar com o herói, a personagem masculina que melhor corresponde nas convenções que adopta, as da heroína e as do herói - sabemos que Elinor casa com Edward e Marianne com o Coronel Brandon, e que Edward Ferrars e Brandon contrastam com o herói convencional figurado, em John Willoughby.
(...)
De facto, as famílias já constituídas e os diferentes pares que no romance se formam com vista ao casamento, e bem assim o papel das mães Mrs Dashwood, Mrs Jennings e Mrs Ferrars, delineiam significados humanos e sociais, diferenciados por padrões da conveniência de classe e de fortuna e pelas afinidades de cultura e educação, que apontam para a relação de amor entre um homem e uma mulher como relação humana necessária.

Álvaro Pina, em "Jane Austen"

quarta-feira, abril 19, 2006

A Lista de Schindler

Oskar Schindler, empresário de grande sentido de oportunidade, aproveita a situação política alemã, que proibia os judeus de serem proprietários de negócios, para se apropriar de uma fábrica de panelas. Para gerir o seu negócio contrata o judeu Itzhak Stern, que o convence a fazer dos judeus a força de trabalho da sua fábrica, uma vez que eram muito mais baratos. As famílias judias, empregadas de Schindler, aproveitam o facto para ficarem longe dos campos de concentração, contribuindo para o crescimento da empresa de panelas, que existiu entre 1939 e 1944 .

Schindler envolve-se em situações de corrupção ao subornar membros da Gestapo e dos altos escalões nazistas com bebida, mulheres e produtos do mercado negro.

Quando Hitler avançou com a "Solução Final", para dizimar os guetos e transferir os judeus para os campos de concentração, Schindler convenceu o comandante de um desses campos - Amon Goeth - a separar os seus empregados dos restantes judeus, num ambiente mais protegido.

Mais tarde, com a obrigação da transferência de todos os judeus para Auschwitz, Schindler, com a ajuda de Stern, elabora uma lista de 1100 nomes, que seriam mandados para a Checoslováquia, a troco de muito dinheiro.

Um filme de Steven Spielberg, baseado no argumento de Steven Zaillian. "Mas o que difere ''A Lista de Schindler'' de tantos outros filmes sobre o Holocausto Nazista é o carácter profundamente humano e realista que os realizadores conseguiram imprimir à obra, até mesmo ao retratar o monstruoso líder do campo de concentração, Goeth." (Clebersander Rech)

''Aquele que salva uma pessoa, salva o mundo inteiro.''

Fonte: "A Lista de Schindler"

"Sensibilidade e Bom Senso" - conclusão

Bem, Marianne e Elinor vão passar uma temporada a Londres. Num dos bailes da capital, Marianne tem a (in)felicidade de encontrar Willoughby. Todavia, este está acompanhado por Miss Grey, com quem vem a casar. Marianne fica desesperada pela indiferença do amado e deixa-se levar pelos devaneios românticos, achando que morrer por amor é uma glória. Marianne deixa de comer, vai passear à chuva e apanha uma grande infecção que quase a mata. Durante a doença de Marianne, é fundamental o apoio do coronel Brandon, que faz tudo ao seu alcance para ajudar a sua querida jovem.

Entretanto, ainda em Londres e antes da doença de Marianne, Lucy torna-se muito amiga de Fanny Dashwood, chegando mesmo a revelar-lhe o segredo do seu noivado com Edward. A reacção de Fanny e dos Ferrars não podia ser pior. Edward é deserdado e condenado à revelia da família. O seu irmão Robert é eleito único herdeiro dos Ferrars.

Brandon, sabendo da triste situação do amigo de Elinor, oferece-lhe a sua paróquia em Delaford. Lucy deixa cair a máscara. Edward pobre? Assim, é melhor mudar de rumo! Foi o que ela fez, ardilosa como sempre, seduziu Robert e libertou Edward de um noivado penoso. Acabou rica como sempre sonhara, mas como esposa de Robert Ferrars.

As conclusões finais não surpreendem. Obviamente Edward voltou para Elinor e Brandon, mais lentamente, conquistou Marianne. As duas irmãs, para além de serem felizes no amor, acabam por viver perto uma da outra, com a mais sensibilidade para Elinor e bom senso para Marianne.


A surpresa reside no facto de Willoughby ter amado realmente Marianne: “O seu arrependimento pela sua má conduta era sincero e não havia possibilidade de dúvidas… assim como pensou durante muito tempo no coronel Brandon com inveja e em Marianne com pena.” Foi traído pela ambição do dinheiro, por isso casou com uma mulher rica e abandonou Marianne. Infeliz no amor, mas não inconsolável, até porque “encontrou um grau razoável de felicidade conjugal”, não obstante Marianne ser “o seu modelo secreto de perfeição feminina…”

Mais pormenores, só lendo o livro, que vivamente recomendo…

terça-feira, abril 11, 2006

"Sensibilidade e Bom Senso" - parte II (opinião)

Continuando…
Antes contar o que acontece a Edward e Elinor, e também a Lucy, vou apresentar a outra personagem principal – Marianne!

Marianne é o oposto de Elinor! Muito sensível, romântica e espontânea, não se preocupa com o que está certo ou não, apenas segue o seu coração! Se não gosta de uma pessoa, não se dá ao trabalho sequer de ser simpática!


A sua vida muda completamente em Barton, quando conhece, por acaso, o lindo e sedutor Willoughby, que parece ter tudo a ver com Marianne. Gosta dos mesmos livros, das mesmas músicas, dos mesmos lugares… parecem almas gémeas! Entre eles surge logo uma grande cumplicidade. Marianne apaixona-se completamente e não faz nada para o disfarçar. Quando os pombinhos pareciam assumir o seu amor, Willoughby vai para Londres por tempo indeterminado, deixando Marianne desolada. Mas por que vai Willoughby para Londres tão repentinamente e sem nenhuma explicação? Conto mais tarde…

Simultaneamente, outro personagem entra em cena, o coronel Brandon. Um homem com trinta e cinco anos, maduro, mas muito triste. Apesar da grande diferença de idades entre ele e Marianne, esta tem dezassete, o coronel apaixona-se por ela, mas percebe que ela não quer nada com ele, nem repara sequer que ele existe… Coitado, coração destroçado…


Em tempos, quando era muito mais jovem, Brandon sofreu um grande desgosto de amor. Vivia um romance com uma jovem chamada Eliza, mas foram separados, poucos momentos antes de fugirem para a Escócia. Ela acabou por casar com o irmão de Brandon e este foi mandado para longe e, mais tarde, para as Índias Ocidentais. Além de terem ficado separados, Eliza divorciou-se e entregou-se a uma “vida de pecado” (usando a expressão da própria Jane Austen). Brandon encontra finalmente (passados muitos anos) Eliza mas num estado lastimável – “tão alterada… tão envelhecida… gasta por todo o tipo de sofrimentos! (…) O seu aspecto mostrava que ela estava no fim.” Bem, é mesmo verdade, Eliza morre, mas com Brandon presente nos seus últimos momentos.

Eliza deixa uma filha, fruto de uma das muitas relações que teve, ao cuidado do coronel, mas que, por falta de condições, foi criada num colégio e depois por uma tutora. Estes pormenores todos não aparecem por acaso. A filha de Eliza mete-se com um sedutor e engravida. Se ainda agora é um escândalo imaginem há duzentos anos. Coitada da rapariga! E quem era esse sedutor? Coincidência das coincidências: Willoughby.

Mas como é que se vai desenrolar o resto da história? Afinal, Willoughby ama ou não Marianne? É ou não um completo sacana? E o infeliz do Brandon? Terá direito a uma oportunidade?

"Sensibilidade e Bom Senso" - a minha opinião

Depois de ter publicado excertos de “Sensibilidade e Bom Senso”, da sempre favorita Jane Austen, chega a vez de dizer o que realmente penso sobre o livro. Vou-me concentrar nas personagens, o ponto mais interessante para mim.

Elinor, a protagonista, é o bom senso, a racionalidade em pessoa. Para ela tudo tem uma explicação, todos os gestos devem ser bem pensados, as atitudes as mais correctas… é uma excelente pessoa, sempre preocupada com a família, principalmente com a irmã Marianne.


Quando o pai morre e, pelos machismos absurdos da época, toda a sua fortuna é deixada ao filho mais velho (fruto do primeiro casamento de Mr. Dashwood). As irmãs Elinor, Marianne e Margaret, e a mãe são obrigadas a abandonar o luxo em que viviam e rumar a uma terra distante, em Barton, onde um parente afastado, Sir John Middleton lhes alugou uma casa a muito bom preço.


Elinor é que governa a casa de acordo com os poucos rendimentos que tinham (note-se que poucos rendimentos para elas eram ter uma casa com apenas quatro quartos, dois empregados, sem carruagem…). É também de realçar o facto de que na época só as mulheres realmente pobres trabalhavam, as outras (incluindo as da classe de Elinor) contentavam-se em bordar, desenhar, ler, tocar piano, passear, fazer compras e ir a festas… as mais virtuosas! Porque as mais fúteis dedicavam-se apenas a cuidar da sua aparência (para “caçar” um marido rico e destacarem-se nas festas), a falar mal dos outros e… a não fazer nada! Bem, isto no século XVIII e XIX, todos sabem que agora as mulheres trabalham:)

Elinor tem mais juízo do que a própria mãe! É mesmo verdade! Sem ela, aquela família de mulheres estava desgraçada! O meio-irmão, Jonh Dashwood, o herdeiro, é um egoísta, tem uma mulher muito pior do que ele, e ambos, ricos, não têm a mínima solidariedade para com as pobres mulheres. Acham que dar uma esmola às irmãs vai prejudicar a sua imensa fortuna.


Enquanto esperavam pela nova casa, as irmãs têm uma visita surpreendente, Edward Ferrars, irmão de Fanny (a terrível esposa de John Dashwood), que é o oposto da venenosa irmã, felizmente! Muito tímido, mesmo inseguro, vive um dilema muito chato. Quer ser pastor (padre, mas com permissão para casar), mas a mãe (que é tal e qual Fanny), acha que o sacerdócio é uma profissão menor, por isso quer que o coitado do Edward siga uma carreira notável na política ou em qualquer coisa digna da sua importância! Resultado: com medo de enfrentar a mãe, Edward nem faz uma coisa nem outra, ou seja, também não faz nada! (não eram só as mulheres…)

Falei no Edward porque ele vai-se apaixonar pela Elinor e… claro, ela por ele! Mas como em todas as histórias de amor, há obstáculos! E no caso deles, o amor só por si não é suficiente para ficarem logo juntos. Para nós parecem estúpidos os motivos que os separam, mas na época faziam todo o sentido. O primeiro obstáculo está na família de Edward, que quer vê-lo casado com Miss Morton, uma mulher rica. Elinor era filha de um homem abastado mas já não o é mais, por isso é logo discriminada pelos Ferrars.

Mas não é isso que os afasta. Edward, em tempos, estudou, em Plymouth, com um professor que tinha uma sobrinha muito ambiciosa, Lucy Steele. Esperta, ela consegue conquistar Edward e arrancar-lhe uma promessa de casamento. Ah, Lucy também não tinha fortuna. O desgraçado do Edward fica preso a este compromisso durante anos e, quando conhece Elinor, percebe que cometeu um grande erro ao se ter envolvido com uma mulher como Lucy. Mas como Edward é também um homem muito sensato que, acima de tudo, honra os seus compromissos, mesmo aqueles que não quer cumprir, mantém-se fiel à sua promessa e, como é óbvio, sofre por não poder ficar com a mulher que ama e ter de casar com uma mulher que simplesmente não gosta. Que destino miserável!

Elinor não percebe por que Edward não se decide, não avança! Todavia, vem a conhecer em Barton a própria Lucy! E a lata desta ao fazer-se passar por amiga de Elinor, contando-lhe todos os pormenores da sua relação com Edward, repetindo vezees sem conta que Edward a amava muito e sofriam muito por não poderem casar logo… O espanto de Elinor! O desgosto! Acreditem que ela ainda perguntou se era do mesmo Edward que falavam… Parecia que o seu amor tinha de acabar! Era impossível!

segunda-feira, abril 03, 2006

Dicionário prático quando utilizado para estimular o bom humor!

Definições

CONTADOR: É o que sabe o custo de tudo e o valor de nada.
AUDITOR: É o que chega depois da batalha e pisa os feridos.
BANQUEIRO: É um indivíduo que te empresta um guarda-chuva quando faz um sol radiante e o pede no instante em que começa a chover. (Mark Twain)
ECONOMISTA: É um expert que saberá amanhã por que o que predisse ontem não aconteceu hoje.
REALISTA: É alguém que leva uma bomba de mentira quando voa, porque isso diminui as possibilidades de que haja outra bomba no mesmo avião. (Laurence J. Peter)
PROGRAMADOR: É o que resolve um problema que você não sabia que tinha de uma maneira que você não compreende.
FÍSICO QUÂNTICO: É um homem cego num quarto escuro, à procura de um gato preto que não está lá.
ADVOGADO: É uma pessoa que escreve um documento de 10.000 palavras e designa por chama "sumário". (Franz Kafka)
PSICÓLOGO: É aquele que olha todos os demais quando uma mulher atraente entra na sala.
CONSULTOR: É alguém que tira o relógio do teu pulso, te diz a hora e te cobra por isso.
DIPLOMATA: É quem lhe diz vá a merda de um modo tal que você fica ansioso para começar a viagem.
DANÇAR: É a frustração vertical de um desejo horizontal.
CANDIDATO (a cargo político): Pessoa que obtém dinheiro dos ricos e votos dos pobres para proteger um do outro.
CONFIANÇA: Via livre que se dá a uma pessoa para que cometa uma série de asneiras.
DESILUSÃO: Quando o belo traseiro não coincide com a cara espantosa que se virou.
FÁCIL: Diz-se da mulher que tem a moral sexual de um homem.
FUTEBOL: É com o que toda mulher se casa sem saber.
INDIFERENÇA: Atitude que adopta uma mulher diante de um homem que não lhe interessa, que é interpretada por ele como "está a fazer-se de difícil".
INFLAÇÃO: É ter que viver pagando os preços do ano que vem com o salário do ano passado.
MODÉSTIA: Reconhecer que alguém não é perfeito, mas não dizer a ninguém.
CHATO: Pessoa que fala quando seria desejado que escutasse.
NINFOMANÍACA: Termo com o qual um homem define uma mulher que deseja fazer sexo mais frequentemente que ele.
SUPERMODELOS: Evidência de que todos nós fomos mal feitos.
TRABALHO EM EQUIPE: Possibilidade de jogar a culpa nos outros.

domingo, abril 02, 2006

Convivência Feliz


"Entre Brandon e Delaford havia uma constante comunicação, naturalmente proveniente da forte afeição familiar... e entre os méritos de felicidade de Elinor e Marianne não podemos deixar de mencionar, pois não é menos considerável, que apesar de irmãs e de viverem quase à vista uma da outra, conseguiam fazê-lo sem se desentenderem e sem provocar qualquer frieza nas relações entre os respectivos maridos."

Jane Austen, em "Sensibilidade e Bom Senso"

Willoughby


"Mas que ficou para sempre inconsolável, que fugiu ao convívio, que andou sempre triste, ou que morreu de desgosto, com isso não se podia contar... pois nada disso aconteceu. Viveu activo e divertiu-se frequentemente. A sua mulher nem sempre estava mal-disposta e a sua casa nem sempre era desagradável; fazendo criação de cavalos e praticando todo o tipo de desportos, ele encontrou um grau razoável de felicidade conjugal."

Jane Austen, em "Sensibilidade e Bom Senso"

Uma nova vida


"Mas assim foi. Em vez do sacrifício de cair numa irresistível paixão, como dantes alegremente esperara... em vez de ficar para sempre com a sua mãe, encontrando os únicos prazeres no retiro e no estudo, como depois no seu calmo e sóbrio pensamento decidira... encontrou-se aos dezanove anos submetendo-se a novos afectos, iniciando novos deveres, instalada numa nova casa; era uma esposa, a senhora de uma família e a senhora de uma aldeia."

Jane Austen, em "Sensibilidade e Bom Senso"

O destino de Marianne


"Marianne Dashwood nascera para um destino extraordinário. Nascera para descobrir a falsidade das suas opiniões e para contrariar, pela sua conduta, as suas normas preferidas. Nascera para vencer uma afeição que aparecera tão tarde na sua vida, aos dezassete anos, e para dar a sua mão a outro, pelo qual não sentia nada superior à forte estima e grande amizade!..."

Jane Austen, em "Sensibilidade e Bom Senso"

Unidos pela amizade

















"Não seria necessário dizer que cada senhor avançou na boa opinião do outro, à medida que se conheciam melhor, pois não poderia ser de outro modo. As suas semelhanças em bons princípios, em bom senso, em maneiras de ser e modos de pensar, seriam provavelmente suficientes pas os unir pela amizade, sem qualquer outro atractivo; mas, de facto, por estarem apaixonados por duas irmãs, e duas irmãs que se estimavam muito, fazia que esse afecto mútuo se tornasse inevitável e imediato, sem ter de esperar o efeito do tempo e das conclusões."

Jane Austen, em "Sensibilidade e Bom Senso"

Apaixonados

"Edward ficaria agora instalado na casa, pelo menos durante uma semana; pois quaiquer que fossem as suas obrigações era impossível dispor de menos de uma semana para apreciar a companhia de Elinor ou para dizer metade do que havia para dizer acerca do passado, do presente e do futuro; e por poucas que fossem as horas passadas no árduo trabalho da conversa incessante, assentariam mais assuntos do que o que seria comum entre quaisquer outras criaturas racionais, pois com apaixonados é diferente. Entre eles, nenhum assunto termina, nenhuma comunicação se faz, até que seja repetida pelo menos vinte vezes."

Jane Austen, em "Sensibilidade e Bom Senso"

Mais Feliz


"Realmente, a sua situação era mais feliz de que o normal, tinha mais que o triunfo normal do amor correspondido para trazer transbordar o seu coração e para lhe dar alegria. Estava liberto, sem ter de se reprovar, de um labirinto que provocara o seu desgosto, de uma mulher que há muito deixara de amar... e conseguiria ao mesmo tempo tanta segurança com outra, na qual deveria ter pensado quase com desespero, logo que aprendera a desejá-la. Viera, não da dúvida ou da expectativa, mas do desgosto para a felicidade; a e a modificação era abertamente mostrada com tão genuína, tão grande e grata alegria como as suas amigas nunca antes tinham testemunhado nele."

Jane Austen, em "Sensibilidade e Bom Senso"

O meu plano


"Já tracei o meu plano, e se for capaz de o seguir... os meus sentimentos serão controlados e o meu carácter melhorado. Eles nunca mais preocuparão os outros, nem me torturarão a mim. (...) e se me misturar com outras pessoas, será apenas para mostrar que o meu espírito é humilde, que o meu coração está melhorado e que posso ser sociável, que posso praticar os mais pequenos deveres da vida com gentileza e com paciência."

Jane Austen, em "Sensibilidade e Bom Senso"

Feira do Livro de Braga

Está a decorrer a Feira do Livro de Braga até ao dia 09 de Abril (próximo domingo), no Parque de Exposições de Braga.

Podem consultar o programa e os horários de funcionamento no site do PEB .