segunda-feira, julho 31, 2006

Já não me importo

"Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.


Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei.


Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,


Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,


Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.


E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz."


Fernando Pessoa

Cartas de Amor

"Todas as cartas de amor são
Ridículas.

Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas)."

Álvaro de Campos

sexta-feira, julho 28, 2006

Liberdade

Liberdade


Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.


O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...


Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.


Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!


Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.


O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa

quarta-feira, julho 26, 2006

Um olhar consciente sobre a vida

Depois de algum tempo percebes a pequena diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.

Aprendes que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começas a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas.

Começas a aceitar as tuas derrotas com a cabeça erguida e os olhos ao largo, com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprendes a construir todas as tuas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de ser traiçoeiro.

Depois de um tempo, aprendes que o sol queima se lhe ficares exposto por muito tempo. E aprendes que não importa o quanto te importas, algumas pessoas simplesmente não se importam...

E aceita que não importa o quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e precisas de perdoá-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobres que se demora anos para se ganhar confiança e apenas segundos para destruí-la, e que podes fazer coisas num instante, das quais te arrependerás para o resto da tua vida.

Aprendes que as verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que tens na vida, mas quem tens na vida. E que os bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprendes que não temos que mudar de amigos se compreendermos que os amigos mudam, percebes que os teus amigos e tu podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobres que as pessoas com quem mais te importas na vida são levadas muito depressa, por isso, sempre devemos dizer às pessoas que amamos palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.

Aprendes que as circunstâncias e os ambientes têm influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos. Começas a aprender que não te deves comparar com os outros, mas com o melhor que podes ser.

Descobres que se demora muito tempo para se tornar a pessoa que se quer ser, e que o tempo é curto. Aprendes que não importa onde já chegaste, mas onde queres chegar, mas se não sabes para onde vais, qualquer lugar serve.

Aprendes que, ou controlas os teus actos, ou eles te controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.

Aprendes que os heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as consequências. Aprendes que paciência requer muita prática.

Descobres que algumas vezes a pessoa que esperas que te vire as costas quando cais é uma das poucas que te ajuda a levantar.

Aprendes que a maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que aprendeste com elas do que com quantos aniversários celebraste.

Aprendes que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são enganos, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso. Aprendes que quando estás com raiva tens o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de seres cruel.

Descobres que só porque alguém não te ama do jeito que queres que ame, não significa que esse alguém não te ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.

Aprendes que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes tens que aprender a perdoar-te a ti mesmo. Aprendes que com a mesma severidade com que julgas, um dia serás condenado.

Aprendes que não importa em quantos pedaços o teu coração foi partido, o mundo não pára para que o consertes. Aprendes que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto, planta o teu jardim e decora a tua alma, em vez de esperares que alguém te traga flores.

E aprendes que realmente podes suportar... que realmente és forte, e que podes ir muito mais longe...

Baseado em Shakespeare

terça-feira, julho 25, 2006

Para os amantes de Fernando Pessoa

Deixo aqui algumas das muitas obras de e sobre Fernando Pessoa.

Bibliografia
Do Poeta
Livros e colectâneas de poesia publicadas em vida do autor:

35 sonnets, by Fernando Pessoa, Lisbon, Ed. Monteiro Co.1918.

Antinous, a poem by Fernando Pessoa, Lisbon, Ed. Monteiro e Co., 1918.

English Poems I-II by Fernando Pessoa, Lisbon, Olisipo, 1921.

English Poems III, Lisbon, Olisipo, 1921. Mensagem, Parceria António Pereira, Lisboa, 1934.

Obras publicadas após a morte do autor:

Obra poética Obras Completas de Fernando Pessoa, col.«Poesia», Lisboa, Ed. Ática.

Poesias de Fernando Pessoa,1ªed. 1942

Poesias de Álvaro de Campos, 1ªed. 1944

Poemas de Alberto Caeiro, 1ªed. 1946

Odes de Ricardo Reis, 1ªed.1946

Mensagem, Fernando Pessoa, 3ªed. 1945

Poemas Dramáticos, de Fernando Pessoa, 1ªed 1952

Poesias Inéditas de Fernando Pessoa (1930-1935), 1ªed. 1955

Poesias Inéditas de Fernando Pessoa (1919-1935), 1ªed. 1956

Quadras ao Gosto Popular de Fernando Pessoa, 1ªed. 1965

Novas Poesias Inéditas, de Fernando Pessoa, 1ªed.1973

Poemas Ingleses publicados por Fernando Pessoa, 1ªed. 1974

Obra Poética de Fernando Pessoa, Lisboa, Publicações Europa-América, 1986

O Guardador de Rebanhos de Alberto Caeiro, edição fac-similada, Lisboa, Ed Dom Quixote, 1986

Primeiro Fausto, São Paulo, Edições Epopeia, 1986.

Obra em Prosa e Epistolografia:

A Nova Poesia Portuguesa, Lisboa, Inquérito, 1944

Cartas de Amor de Fernando Pessoa , Lisboa, Ed. Ática, 1ªed., 1978

Cartas de Fernando Pessoa a Armando Cortes Rodrigues, 3ªed., Lisboa, Livros Horizonte, 1985

Cartas de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões, 2ªed., Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1982

Da República, Lisboa, Ed. Ática 1ªed. 1979

Fernando Pessoa - O Comércio e a Publicidade, Lisboa, Ed. Cimevoz/Lusomédia, 1986.

Livro do desassossego por Bernardo Soares, Lisboa, Ed. Ática,1982, 2vol.

Obra em Prosa, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1974.

Obras em Prosa de Fernando Pessoa, Lisboa, publicações europa-América, 1987.

Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Auto-Biográficas;

Textos de Intervenção Social e Cultural - A ficção dos Heterónimos;

Livro do Desassossego por Bernardo Soares, I parte;

Livro do Desassossego por Bernardo Soares, II parte;

Ficção e Teatro - O Banqueiro Anarquista, Novelas Policiárias, O Marinheiro e Outros;

A Procura da Verdade Oculta - Textos Filosóficos e Esotéricos;

Portugal, Sebastianismo e Qinto Império;

Páginas de Pensamento Político-I (1910-1919);

Páginas de Pensamento Político-II (1925-1935)

Páginas de Doutrina Estética, Lisboa, Inquérito, 1946

Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Lisboa, Ed. Ática 1ªed. S/d

Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, Lisboa, Ed. Ática, 1ªed.1966

Sobre Portugal, Lisboa, Ed. Ática ,1ªed.1979

Textos Filosóficos, Lisboa, Ed. Ática, 1ªed.1968, 2vol

Textos para Dirigentes de Empresas, Lisboa, Ed. Cinevoz, 1969

Textos de Crítica e de Intervenção, Lisboa, Ed. Ática, 1ªed. 1980

Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, Lisboa, Ed. Ática,1ªed.1980.

Obra em Prosa e Epsitolografia A Nova Poesia Portuguesa, Lisboa, Inquérito, 1944

Cartas de Amor de Fernando Pessoa , Lisboa, Ed. Ática, 1ªed., 1978

Cartas de Fernando Pessoa a Armando Cortes Rodrigues, 3ªed., Lisboa, Livros Horizonte, 1985

Cartas de Fernando Pessoa a João Gaspar Simões, 2ªed., Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1982

Da República, Lisboa, Ed. Ática 1ªed.1979

Fernando Pessoa - O Comércio e a Publicidade, Lisboa, Ed. Cimevoz/Lusomédia, 1986.

Livro do desassossego por Bernardo Soares, Lisboa, Ed. Ática,1982, 2vol.

Obra em Prosa, Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1974.

Obras em Prosa de Fernando Pessoa, Lisboa, publicações europa-América, 1987.

Escritos Íntimos, Cartas e Páginas Auto-Biográficas;

Textos de Intervenção Social e Cultural - A ficção dos Heterónimos;

Livro do Desassossego por Bernardo Soares, I parte;

Livro do Desassossego por Bernardo Soares, II parte;

Ficção e Teatro - O Banqueiro Anarquista, Novelas Policiárias, O Marinheiro e Outros;

A Procura da Verdade Oculta - Textos Filosóficos e Esotéricos;

Portugal, Sebastianismo e Quinto Império;

Páginas de Pensamento Político-I (1910-1919);

Páginas de Pensamento Político-II (1925-1935)

Páginas de Doutrina Estética, Lisboa, Inquérito, 1946 Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, Lisboa, Ed. Ática 1ªed. S/d

Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, Lisboa, Ed. Ática, 1ªed.1966

Sobre Portugal, Lisboa, Ed. Ática ,1ªed.1979

Textos Filosóficos, Lisboa, Ed. Ática, 1ªed.1968, 2vol

Textos para Dirigentes de Empresas, Lisboa, Ed. Cinevoz, 1969

Textos de Crítica e de Intervenção, Lisboa, Ed. Ática, 1ªed. 1980

Ultimatum e Páginas de Sociologia Política, Lisboa, Ed. Ática,1ªed.1980.


Sobre o Poeta:
ALCÂNTARA, Maria Beatriz Rosário de, Fernando Pessoa e o Movimento Futurista de Álvaro de Campos, Brasília, Ed. Fundação Waldemar de Alcântara, 1986

ALMEIDA, Luís Pedro Moitinho de, Fernando Pessoa e a Magia, Lisboa, 1959

ALMEIDA, Luís Pedro Moitinho de, Fernando Pessoa no Cinquentenário da Sua Morte, Coimbra, Coimbra Editora, 1985.

ANDRADE, João Pedro de, A Poesia da Moderníssima Geração, Porto, Livraria Latina, 1943.

ANTUNES, Manuel, Três Poetas do Sagrado: Pascoaes, Pessoa, Régio, Lisboa, 1957.

BELKIOR, Silva, Fernando Pessoa- Ricardo Reis, Ed. Imprensa Nacional Casa da Moeda, Lisboa, 1983

BERARDINELLI, Cleonice, Poesia e Poética de Fernando Pessoa, Rio de Janeiro, 1958.

BLANCO, José, Fernando Pessoa - Esboço de Uma Bibliografia, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1983

CARNEIRO, Mário de Sá-, Cartas a Fernando Pessoa, Ed. Ática, Lisboa, 1958.

CENTENO, Yvette K., 5 Aproximações, Lisboa, Ática, 1976.

CENTENO, Y.K.; Reckert, S., Fernando Pessoa - Tempo, Solidão, Hermetismo, Lisboa, Livr.Moraes, 1978.

CENTENO, Yvette, Fernando Pessoa e a Filosofia Hermética, Lisboa, Editorial Presença, 1985

COELHO, António de Pina, Os Fundamentos Filosóficos da Obra de Fernando Pessoa, Lisboa, Editorial Verbo, 1971, 2 vol.

COELHO, Jacinto do Prado, Diversidade e Unidade em Fernando Pessoa, Lisboa, Editorial Verbo, 1963.

COELHO, Jacinto do Prado, Camões e Pessoa, Poetas da Utopia, Lisboa, Publicações Europa-América, 1984.

COSTA, Eduardo Freitas da, Fernando Pessoa- Notas a uma biografia Romanceada, Lisboa, Guimarães Editores,1951.

COSTA, Dalila Pereira da, A Nova Atlântica, Porto, Lello, 1977.

COSTA, Dalila Pereira da, O Esoterismo de Fernando Pessoa, Porto, Lello & Irmãos Editores, 1971.

DUARTE, José Afrânio Moreira, Fernando Pessoa e os Caminhos da Solidão, Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1968.

EDINGER, Catarina T.F., A Metáfora e o Fenómeno Amorosa nos Poemas Ingleses de Fernando Pessoa, Porto, Brasília editora, 1982.

FRANÇA, Isabel Murteira, Fernando Pessoa na Intimidade, Lisboa- Rio de Janeiro, Dom Quixote - Livraria Paisagem, 1987.

FREITAS, Eduardo da Costa, Fernando Pessoa- Notas a Uma Crítica Romanceada, Lisboa, Guimarães, 1951.

GUSMÃO, Manuel, O Poema Impossível - o Fausto de Pessoa, Lisboa, Ed. Caminho, 1986.

JAKOBSON, Roman; PICCHIO, Luciana, Os Oximoros Dialécticos de Fernando Pessoa, Edições 70, 1976.

JENNINGS, H.D., Os Dois Exílios, Porto, Fundação Engenheiro António de Almeida, Centro de Estudos Pessoanos, 1984.

KUJAWSKY, Gilberto de Mello, Fernando Pessoa, o Outro, S.Paulo, Centro Estadual de Cultura, 2ªed. 1973.

LENCASTRE, Maria José de, Fernando Pessoa- uma Fotobiografia, Lisboa, Ed. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1981.

LIND, Georg Rudolf, Teoria Poética de Fernando Pessoa, Porto, Inova, 1970.

LOPES, Teresa Rita, Pessoa por conhecer, Lisboa, Editoral Estampa, 1990, 2vol.

LOURENÇO, Eduardo, Fernando Pessoa Revisitado, Porto, Ed. Inova, 1973.

LOURENÇO, Eduardo, Fernando, Rei da Nossa Baviera, Lisboa, Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 1986.

MOISÉS, Carlos Filipe, O Poema e as Máscaras, Coimbra, Livraria Almedina, 1981.

MONTEIRO, Adolfo Casais, Estudos sobre a Poesia de Fernando Pessoa, Rio de Janeiro, Ed. Agir, 1958.

MONTEIRO, Adolfo Casais, Fernando Pessoa e a Crítica, Lisboa, Inquérito, 1952.

MONTEIRO, Adolfo Casais, Estudos sobre Fernando Pessoa, Rio de Janeiro, Agir,, 1958; 2ªed., Lisboa, INCM, 1985.

NEMÉSIO, Jorge, A Obra Poética de Fernando Pessoa, Salvador, Bahia, Livr. Progresso Editora, 1958.

PADRÃO, Maria da Glória, A Metáfora em Fernando Pessoa, Porto, Ed. Inova, 1973.

PERRONE-MOISÉS, Leyla, Fernando Pessoa - Aquém do Eu, Além do Outro, São Paulo, Martins Fontes, 1982.

QUADROS, António, Fernando Pessoa, Lisboa, Ed. Arcádia, 1960, 2ªed. 1984.

QUADROS, António, Fernando Pessoa - Vida, Personalidade e Génio, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 2ªed., 1984.

ROSA, Pradelino, Uma Interpretação de Fernando Pessoa, Lisboa, Guimarães Editores, 1971.

SACRAMENTO, Mário, Fernando Pessoa, Poeta de Hora Absurda, Lisboa, ed. Contraponto, 1958; 2ªed., Porto, Ed. Inova, 1970.

SEABRA, José Augusto, O Heterotexto Pessoano, Lisboa,Dinalivro, 1985.

SEABRA, José Augusto, Fernando Pessoa ou o Poetodrama, Instituto Nacional-Casa da Moeda, 1988.

SENA, Jorge de, O Poeta é um fingidor, Lisboa, Ática, 1961.

SIMÕES, João Gaspar, Vida e Obra de Fernando Pessoa, Lisboa, Livraria Bertrand, 1950; 2ªed.,revista s/d.

SILVA, Agostinho da, Um Fernando Pessoa, Lisboa, Guimarães Editores, 1988.

SIMÕES, João Gaspar, Vida e Obra de Fernando Pessoa - História de Uma Geração,1ºed., Lisboa, Bertrand, 1951, 2vol.; 4ªed., 1980.

SIMÕES, João Gaspar, Fernando Pessoa- breve história da sua vida e da sua obra, Lisboa, Difel,1983.

SOUSA, Maria Leonor Machado de, Fernando Pessoa e a Literatura de Ficção, Lisboa, Ed. Novaera, 1976.

VERNEX, Jorge, A Maçonaria e Fernando Pessoa, Porto, Ed. Além, 1953.
BOAS LEITURAS!!!

segunda-feira, julho 24, 2006

Se, depois de eu morrer...

Se, depois de eu morrer...

Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas --- a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra todos os dias são meus.


Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem setimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas iguais.Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso fui o único poeta da Natureza.


Alberto Caeiro

domingo, julho 23, 2006

Poema em linha recta

"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possiblidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão - princípe - todos eles princípes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó princípes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?

Então só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."

Álvaro de Campos

Não, não é cansaço...

"Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais."

Álvaro de Campos

sexta-feira, julho 21, 2006

O que há em mim é sobretudo cansaço

"O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço..."


Álvaro de Campos

quinta-feira, julho 20, 2006

Sei que despertei e que ainda durmo. O meu corpo antigo, moído de eu viver diz-me que é cedo ainda… Sinto-me febril de longe. Peso-me, não sei porquê…
Num torpor lúcido, pesadamente incorpóreo, estagno, entre o sono e a vigília, num sonho que é uma sombra de sonhar. Minha atenção bóia entre dois mundos e vê cegamente a profundeza de um mar e a profundeza de um céu; e estas profundezas interpenetram-se, misturam-se, e eu não sei onde estou nem o que sonho.
Um vento de sombras sopra cinzas de propósitos mortos sobre o que eu sou de desperto. Caio de um firmamento desconhecido um orvalho morno de tédio. Uma grande angústia inerte manuseia-me a alma por dentro e, incerta, altera-me, como a brisa aos perfis das copas.Na alcova mórbida e morna a antemanhã de lá fora é apenas um hálito de penumbra. Sou todo confusão quieta… para que há-de um dia raiar?...
Custa-me o saber que ele raiará, como se fosse um esforço meu que houvesse de o fazer aparecer.
Com uma lentidão confusa acalmo. Entorpeço-me. Bóio no ar, entre velar e dormir, e uma outra espécie de realidade surge, e eu em meio dela, não sei de que onde que não é este…
Bernardo Soares

quarta-feira, julho 19, 2006

As minhas ansiedades

"As minhas ansiedades caem
Por uma escada abaixo.
Os meus desejos balouçam-se
Em meio de um jardim vertical.

Na Múmia a posição é absolutamente exacta.

Música longínqua,
Música excessivamente longínqua,
Para que a Vida passe
E colher esqueça aos gestos."

Fernando Pessoa

terça-feira, julho 18, 2006

No deserto da multidão

Caminhas no deserto da multidão. As pessoas existem mas é como se não existissem. Passamos por elas e nem reparamos que elas estão ali. Por vezes até tropeçamos em alguma mas continuamos a caminhar sem olhar para trás, sem sequer olhar o rosto dessa pessoa. Chamam-lhe a indiferença das sociedades modernas. Vivemos no meio de tanta gente mas sozinhos, fechados no nosso mundo, no nosso círculo de amigos.

Fazemos planos como se vivêssemos para sempre. Olho-te nos olhos e vejo montes de sonhos a realizar, esperanças e ambições. Queria tanto poder voltar a sonhar com fé, crente de que os meus sonhos seriam um realidade mais tarde ou mais cedo. Tive tantos projectos, realizei muito planos, alguns até nem cabiam nos meus sonhos. De tudo o que sonhei só não atingi a realidade de um sonho. Talvez nunca consiga. Talvez não me atreva a contar a ninguém qual é o sonho que me falta realizar. Talvez seja um disparate. Não me queria ir embora sem o realizar. Se um dia viver esse sonho, posso ir-me embora, feliz, certa de que cumpri a minha missão, estabelecida por mim própria. Cumpriria o destino que tracei em sonhos, ideias, acções, sentimentos e emoções.

Há um lado da vida que não desejo nem à pessoa mais maquiavélica. A escuridão, andar na vida com as luzes apagadas, as nuvens carregadas com chuvas fortes e trovoadas. Sentir a fragilidade do ser humano perante as catástrofes, adversidades, obstáculos inevitáveis. Sentir que não podemos controlar tudo, o nosso corpo, a nossa mente, o nosso coração. Somos seres fracos. Mostramos força, dizemo-nos capazes do impossível, até podemos voar e ir à lua, mas sucumbimos perante coisas simples, aparentemente tão insignificantes que quando elas aparecem não estamos preparados, não acreditamos que existem mesmo, que nos podem atingir. Fechamos os olhos às misérias. Cremos que são uma minoria, que devem ser ficção, coisas da televisão e do cinema. Quando elas aparecem demoramos a digeri-las porque não conseguimos aceitar que estejam mesmo debaixo dos nossos olhos, às vezes dentro de nós.

É tão complicado explicar o inexplicável. Que palavras podem descrever a nossa fragilidade? Como explicar que levantar todos os dias da cama, abrir a janela, ver a luz do dia, ouvir o barulho dos carros e das pessoas a falar, tomar banho e escolher uma roupa, saborear o pequeno-almoço e ir trabalhar pode ser uma rotina, mas é a melhor coisa que temos. Só quando nos vemos impossibilitados de fazer essa rotina é que percebemos o valor que ela tem. Não é um valor que se explica mas se sente. E só o podemos sentir com intensidade se algum dia algo nos impedir de o realizar.

Podem-nos falar de milhões de pessoas que dariam tudo para terem os nossos problemas. Porque isso seria sinal de que não teriam outros mais graves.

Realizar sonhos quando se tem todas as condições não é um feito mas uma obrigação natural. Mas ultrapassar obstáculos em determinadas condições não é realizar um sonho, é um pequeno milagre todos os dias. A própria vida é um milagre.

A ti, meu anjo, só desejo que continues nas nuvens, num mundo de muita luz, onde não entre a escuridão, onde as misérias, as fragilidades, os obstáculos inultrapassáveis sejam coisas irreais que não cabem na tua realidade. Não quero que conheças o lado negro da vida. Não quero que a tua felicidade sofra qualquer abalo. Só quero que sejas feliz…

Sandra Bastos

domingo, julho 16, 2006

Príncipe do nada

Príncipe do nada. Surges como uma luz de fundo na escuridão. Passos pesados, desajeitados. Um príncipe sem coroa nem manto. Onde está o teu trono? O teu reino? No coração das mulheres insensatas? No instinto, no desejo das descontroladas ou esfomeadas? Como reinas tu no universo feminino? Com histeria? Sim, muita. Inacreditável. Nem a masculinidade do Cristiano Ronaldo teria tanto sucesso. Bastava seres famoso. Não na tua rua, nem na tua zona ou distrito. No país, no mundo. Aí sofrerias o peso do teu corpo. Aí serias vítima da irracionalidade do desejo não só de algumas mulheres mas também de gays. Isso seria catastrófico para ti. Não poderias controlar. Não conseguirias viver nem fugir. Serias o verdadeiro príncipe encantado de milhares (ou milhões) de mulheres. Sonhas com isso? O que davas por esse título?

Príncipe do nada. É o que és, como muitos homens. Mas há uma grande parte que nem chega a ser príncipe. São “sapos”, pequenos monstros… às vezes disfarçados em corpos perfeitos. Serás um desses? Acredito que não. Até que ponto? Até provares o contrário. Cinderelas… tantas! Obcecadas por encontrar o príncipe que as salve da sua vida miserável. Tão parvas. Eu sei, também já fui assim. Talvez por isso procure quem não me queira salvar, quem não me queira calçar um sapatinho que me transforme numa bela princesa e depois “foram felizes para sempre”. A bruxa má estava dentro de mim mesma. Eu a minha maior inimiga que me estragava a vida, que mergulhava numa miséria profunda. E depois teria de aparecer o príncipe encantado que no primeiro olhar se apaixonaria para sempre… Ridículo!

No meu conto-de-fadas, eu sou a conselheira da princesa, da rainha e de outras inúteis. Cumprido o meu horário de trabalho sairia para a borga, onde me divertia durante a madrugada, livre como um passarinho, feliz como a criança mais amada. Nos meus dias de folga correria o mundo, novos conhecimentos e descobertas, na mais autêntica farra da vida.

De regresso ao trabalho, no palácio das ilusões, lá teria de me cruzar com o parvalhão do príncipe e outros tantos pretendentes a títulos da nobreza e ouvir os seus queixumes, aturar as crises nervosas das damas, que não sabem o que vestir, como atrair os seus amados, como manter o final feliz para sempre. Vão-se foder todos!Qualquer dia, se não me derem um aumento, meto atestado médico por stress no local de trabalho.

Diz-me a verdade: és um príncipe encantado? Que tipo de príncipe és? És o que elas querem ou apenas o que realmente és? Príncipe de porcaria nenhuma. Príncipe do nada. Ou nada de príncipe. Se fores eleito rei de qualquer esterco, podes ter a certeza de que peço o exílio do teu reino e ainda fico a preparar uma revolução que devolva a anarquia!

Falando agora sem metáforas para não baralhar o teu português. Se te transformas no protótipo de príncipe encantado serei a primeira a rejeitar-te, a ignorar-te, a condenar tão humilhante condição. Mas o que é um príncipe encantado? Aquele que casa com a Cinderela. E?

Um exemplo: ela infeliz no seu emprego (seja ele qual for), passa os minutos a contar o tempo que ainda lhe resta para acabar o trabalho que detesta; vai para a sua casinha e perde-se com as lamechices das telenovelas portuguesas e das revistas cor-de-rosa; sonha com o príncipe que a vai salvar da sua vida miserável. Para isso produz-se a fim de o conquistar. Normalmente é o primeiro que lhe aparece, que fixa o seu decote e a convida para sair. Ele é o príncipe encantado. Minimamente atraente, sabe seduzir, mesmo que inconscientemente, promete-lhe mundos e fundos, faz-lhe todas as vontades até ao casamento. Depois, principalmente quando surgem os descendentes, a coisa perde o interesse, porque não dá para manter a máscara para sempre. Esta acaba por cair muito mais cedo do que imaginam.

Claro que podia aprofundar muito mais o exemplo, mas acho que já percebeste o que quero dizer. Mesmo assim podes me perguntar o que quiseres. Como já disse, e volto a repetir até acreditares que é mesmo para ti que falo, que terás todas as respostas, as minhas, mas talvez não as que procuras.

Príncipe do nada… Sem príncipes. Nem princesas. Apenas nós próprios. Sem máscaras. Despidos de hipocrisias, preconceitos ou complexos. Apenas a essência. O âmago do nosso fundo.


Fica bem. Em ti, sobre ti mesmo e acompanhado por ti próprio. Um dia te direi porquê, se entretanto não te transformares num príncipe e arranjares uma princesa igualmente inútil. Desculpa, eu sei que serve para ter filhos. E cuidar da casa. Além disso… mais alguma coisa?


Sandra Bastos

sábado, julho 15, 2006

Tabacaria

"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
(…)
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade,
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!

Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim."
(…)

Álvaro de Campos

quarta-feira, julho 12, 2006

Ainda aí estás? O teu rosto expressivo...

Ainda aí estás? Mas como? Tens paciência para me ouvir? Pois, o problema é mesmo esse, estás a demorar mais tempo do que imaginava. Eu que pensei que estavas apenas de passagem e repeti vezes sem conta para mim mesma: isto não é nada, não significa mesmo nada. E andei assim dois longos meses, tão agradáveis, contigo debaixo d’olho.

Mas quando não estou contigo, começo a sentir um aperto, uma saudade, uma vontade incontrolável de estar contigo. Não te vás embora já! Eu prometo não te chatear. Vou-me portar bem. Não te vou dar sermões. Não te vou picar. Quero apenas ouvir-te. Estar horas mergulhada na singularidade do teu ser, sempre tão curioso. Quero conhecer-te, como se me lembrasse de não te conhecer. Mas era diferente. Quero entrar no teu mundo, perceber como funcionas, os teus neurónios em movimento, o coração a palpitar, o carinho das tuas mãos, o calor do teu corpo…

Sei lá, as saudades a apertarem e a iminência de te perder para sempre. Tu que não te queres dar a ninguém. Tens razão, o mundo dos afectos é um vulcão em actividade, a ferver, a incendiar e até a destruir o que o rodeia. É, amores verdadeiros ou sérios podem ser catástrofes, prisões, desilusões, tanta porcaria destrutiva, poluição que até cheira mal. Mas há também o outro lado, o crescimento completo, a paixão, o auge da felicidade, que nunca se alcança apenas com o sucesso. Há um mundo fantástico de descoberta, de entrega, cumplicidade, onde não se sabe quando começa e acaba o nosso eu.

Mas continuas aí? Com esse sorriso maroto, ou preferes que o apelide de macho? Não me convences com essa treta da virilidade. Não precisas disso para nada. Não precisas de te mostrar para demonstrares que és um grande homem, em todos os aspectos. Se te concentrares no interior do teu ser verás que não tens necessidade de provar a ninguém quem és, como és e do que és capaz. Confia em ti, como sempre e como em todas as coisas.

E continuas cheio de dúvidas. Serei eu? Pergunta-me o que quiseres. Terás todas as respostas, as minhas, mas talvez não as que procuras.

Sandra Bastos

terça-feira, julho 11, 2006

A emoção de viver

"É hora. Acorda. Estás na tua vida. Levanta-te. Toca a viver. Tens tanto a conhecer. Não podes desperdiçar mais tempo em tristezas. A porta da prisão abriu-se. Tu que pensavas que não sairias viva de lá. Junta as tuas coisas. Liberdade. Agora pega no teu saco e deita-o ao lixo. Não vais precisar de nada que lá usaste. Tens de comprar coisas novas. Mudar de roupa. Tomar um banho completo. Ver o mar. Sentir a força das ondas livres que não param, que fazem o que querem, uns dias aclamam, outros enfurecem, mas sempre com o mesmo objectivo: existir.

Corre. Não tens paredes que te impedem de correr. Não tens grades que te travam o caminho. Tantas coisas bonitas e tu nem tinhas reparado que elas existiam. Porque não as vias. Nem nos teus sonhos. Não pares. Continua a correr. Sorri para vida. Dá gargalhadas. É tão bom viver.

As pessoas que passam… olha só para aquelas que sorriem e te olham nos olhos. Só essas valem a pena. As árvores, os campos, os passeios, os edifícios, o espaço livre, as crianças sempre inocentes, as flores a desabrocharem, as nuvens branquinhas, o céu, a lua tão romântica, as estrelas…

E agora repara, sim, entra ali, ouve as pessoas a falar alto, a rir de alegria, algumas com copos na mão, felizes… Sim, também podes lá estar. Sim, tu mesma. Nada te impede de aí estares.

Olha ali também, artistas no palco. Uns falam, outros gritam, outros dançam, outros fazem acrobacias, outros tocam, outros cantam, outros que não te deixam indiferente. Também podes ver. Ouvir. Cheirar. Apalpar. Sentir. E falar. Porque eles ouvem-te. Com atenção. E gostam de ti. Exactamente como és. Nem mais nem menos. Nem mais gorda nem mais magra. Nem mais alta nem mais baixa. Assim mesmo. Sim, lá na prisão era diferente. Mas isso foi noutra vida. Nunca nesta. Podes também parar. Relaxar. Sem nada fazer. Saborear o descanso. Respirar, caminhar, mexer também cansa. Amanhã é outro dia.

Compreendo que estejas emocionada. Ainda não viste nada. Isto é só o princípio. Nunca mais serás a mesma. Só deste os primeiros passos. Consegues ver lá ao fundo? Não! Pois, nem nunca verás. Porque este caminho, ao contrário dos outros, não tem fim. Terás sempre coisas a descobrir. Conhecimentos a adquirir. Pessoas a amar. Por muito longe que chegues estarás sempre longe da perfeição mas cada mais distante da imperfeição. E o que importa não é atingir o impossível mas chegar lá o mais perto possível."

Eva Monteiro, em "Memórias"

A recuperação da queda

"Estou emocionada. Anos à procura sem saber de quê. Uma vida marcada pela dúvida mas pela certeza de que tinha uma missão ou apenas um caminho a escolher. Porque não há destinos marcados, há sim várias opções que o decidem.

Andei perto de descobrir o meu caminho, estava perto, sentia que podia ir por ali mas tinha medo, medo de nada e de tudo. Quando me mostraram o caminho, fiquei emocionada. Ouvi uma voz dentro de mim:
- É mesmo por ali que tens de ir. Chegou a hora de optares e não podes perder mais tempo. Larga o que te impede de seguir em frente, porque não é aí que tens de ficar, não é essa vida que tens de viver. Faz as malas das recordações. Leva só o essencial. O resto tem de ficar para trás, não pode caber na tua nova vida. Tiveste de passar por diversas provas, por momentos terríveis que te ajudaram a crescer e a ganhar a confiança necessária. Tudo o que passaste era importante para compreenderes o mundo, o valor da vida, o teu próprio destino. Agora estás pronta! Agora é o momento! Vai… mas não voltes para trás.

Só agora sou capaz de escolher o melhor, só agora tenho condições para não cair e desistir. Noutra altura tudo se perderia não teria a coragem para continuar num caminho tão exigente. Só Deus sabe. Porque Deus é a sabedoria e o amor. Confiou em mim. Sabia que para chegar aonde quero teria de passar por dolorosos obstáculos, quase impossíveis. Mesmo quando estava do fundo do poço, tão fundo que nem conseguia ver a luz ao fundo, deste-me a tua mão e disseste-me que ias estar sempre comigo, mesmo que o fim fosse ali mesmo. Acreditei em ti. Sabia que não me ias abandonar mesmo quando me senti sozinha e sem forças. Mesmo quando achei que eras a única ilusão em que podia acreditar, mesmo quando as evidências mostravam que estavas longe. Mas a tua mão sempre ali, quase sem força, mas sempre ali…

Sabes que perdi tudo, o meu amor-próprio, a minha dignidade… fui um farrapo de limpar o chão. Às vezes nem para isso servia. Quem me tornou assim tão miserável? Não quero saber.

Tens que impor respeito e ver por onde caminhas, com quem e, principalmente, saber quem é capaz de te empurrar para reagires antes da queda. E se caíres, levanta-te logo e afasta o brincalhão, manda-o às favas. Mas não permitas que brinquem contigo aos empurrões. Isso é jogo sujo. Quem faz batota tem de ser expulso. Não entra mais no relvado. No palco da tua vida não podem haver indisciplinados nem desordeiros. Ninguém pode agredir o adversário gratuitamente.

Um passo de cada vez. Até que consegui sair do poço. Vejo a claridade da luz que ilumina da linda paisagem que me rodeia. O sol brilha, o céu está azul, a temperatura agradável… respiro o ar puro e que bom é ser livre. Que bom que é poder caminhar, dar pulos de alegria, sorrir e abraçar os amigos, sentir o calor do amor, a força da vida… o que eu perdi nestes anos todos. Uma vida mergulhada na escuridão, sempre na eminência do abismo, presa à infelicidade.

Não há palavras, não há gestos, nem o meu sentimento de gratidão chega para te valorizar. Não precisas de mim para seres quem és, mas eu sem ti nem existia, e se existisse não sobrevivia. É o melhor que te posso dizer.

Só sei que sem ti não estava aqui, não conseguiria sentir esta emoção por existir não só de corpo, mas sobretudo de alma. A única coisa que posso fazer em tua homenagem é agarrar esta oportunidade e não voltar a dar-te tanto trabalho. Meu Deus."

Eva Monteiro, em "Memórias"

segunda-feira, julho 10, 2006

Tu és...

Quando revejo os bons momentos que juntos passámos há sempre uma imagem que acompanha cada recordação. A expressividade do teu rosto, o teu olhar fatalmente sedutor, a autenticidade do teu sorriso, a barba a despontar, os traços perfeitos da tua fisionomia, densos os teus lábios…

Sorris confiante, os passos que dás são seguros, sabes muito bem o terreno que pisas. Transportas na tua juventude todos os sonhos do mundo, deixas as palavras fluírem ao ritmo do teu coração. Mas a inteligência, o talento, o trabalho são imprescindíveis. Até os teus pensamentos estão divididos em compassos. Música na medida certa. O excesso pode perturbar o prazer da contemplação. Pensar demasiado em determinadas questões seria tempo desperdiçado, perturbador demais, talvez o fim de muitas certezas. E isso poderia trazer a palavra proibida: insegurança!

Por que te admiro tanto? Personalidade. Sim, tens personalidade. Podes errar, podes magoar os outros, podes irritar-me, podes agir com imaturidade, mas nunca por falta de personalidade. Isso é o mais importante. O teu coração existe apenas para os momentos certos. O cérebro para todos.

Mendelssohn. Conheces o famoso solo para trompas (Nocturno) do Sonho de Uma Noite de Verão? Certamente. Expressivo… tu és…


Estar contigo é o meu sonho nesta noite de Verão. Chamo por ti, apesar de não me ouvires. A tua música bem lá ao longe… Que instrumento faz de ti um artista? Será digno de ti? Não sei. Claro, o nome do instrumento… Não sei. Sabes? O quê? Curioso, eu também. Não. Sim. Fica comigo. Transforma esta noite num sonho de Verão. Ou a noite de verão num sonho. Ou o sonho na noite todo o Verão. Apenas o sonho. Quando quiseres… entra o resto da orquestra… na noite… no Verão… Apenas este andamento. Não gosto da marcha da obra. Sim, estou a falar de Mendelssohn. Não parecia? Pois, onde isso vai.

Vais sim ser feliz! Sempre. Tem de ser uma certeza. Onde quer que estejas e com quem e de que forma. Enfim. Tretas. Ainda aí estás? És muito crente. E com esse olhar fixo em mim! Não admira que fiques convencido. Desculpa, quis dizer apenas confiante. Está gira a conversa. Às 3 da manhã. Falava de ti a noite toda. Ou contigo. Como preferires. Perdoas-me se continuar amanhã? Não, hoje mesmo depois de dormir, depois de fazer o meu exame e no intervalo de estudo para um outro exame. Perco-me contigo, a contemplar-te, a ouvir-te, a falar contigo, a escrever sobre ti… Sabias que és uma perdição?

Mas não me mistures com as outras. Não tem nada a ver. Não interessa. Logo volto a escrever. Quem sabe se não te encontro, perdido entre a multidão da paisagem, mesmo na confusão sabes para onde vais e nem por um segundo hesitas na direcção a tomar. Só quero que os teus passos te levem ao possível do impossível. Mesmo que eu não te possa ovacionar ao vivo. No meu cantinho, estarei na primeira fila a aplaudir-te, no grande auditório do mundo, onde tu estás no palco da tua vida como actor principal.

Sim, para a frente mas sempre com os pés no chão, não vá haver o azar das nuvens estarem furadas…e o anjo da guarda estar de férias!

Sandra Bastos

domingo, julho 09, 2006

Poesia

"Sempre a poesia, mesmo a mais alta, foi uma espécie de estratégia divina, para nos tomarmos pelos deuses que não somos. Pessoa só quis ser, mas de "todas as maneiras", um mero ser humano. Quer dizer, pura matéria de sonho. Sonhos que Pessoa raramente chamou poemas. Ele sabia que o que assim se chama não tem nome e, por isso mesmo, são "poesia", palavra sem mais tradução que a língua dos anjos que não é palavra nenhuma mas pura chama. À espera que alguém se queime e nunca mais seja o mesmo que era antes de meter a mão no fogo."
Eduardo Lourenço
Prefácio de Poemas de Fernando
Pessoa

sexta-feira, julho 07, 2006

O Guardador de Rebanhos

"Eu nunca guardei rebabanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
(…)
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
(…)
Quando me sento a escrever versos
Ou, passando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte em mim
No cimo de um outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas ideias,
Ou olhando para as minhas ideias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que se diz
E quer fingir que compreende."
(…)

Alberto Caeiro

O Pastor Amoroso

"O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se não a vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio."

Alberto Caeiro

Não é necessário formar professores de português!

Eis uma forma de manifestar tristeza pela falta de reconhecimento pelo esforço daqueles que acreditam que podemos chegar mais longe e não ser eternamente rotulados de ignorantes, pacatos (para não dizer acomodados) e tristes. Digo tristeza e não revolta, desprezo ... porque ainda acredito que os "iluminados" que nos representam vão olhar para a educação em geral e para o ensino do português em particular e assumir as culpas que agora atribuem aos professores. Já é tempo de ultrapassar a fase da procura das vítimas e dos culpados e fazer alguma coisa!

Deixo à reflexão um pequeno texto que por casualidade me veio ter às mãos e acordou em mim a mágoa de me sentir inútil... mas quem corre por gosto não cansa... Contudo, quem espera por vezes desespera

"Tome-se uma mulher (ou um homem).
De preferência que saiba ler um pouco.
Sendo humano, também dá jeito.
Fora de época, use-se o robot.
Deve chegar para se ser professora de Língua Portuguesa." (Rafael Tormenta)

Esperança

quinta-feira, julho 06, 2006

O Amor

"O amor é que é essencial.
O sexo é só um acidente.
Pode ser igual
Ou diferente.
O homem não é um animal:
É uma carne inteligente,
Embora às vezes doente."

Fernando Pessoa

Autopsicografia

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração."

Fernando Pessoa

domingo, julho 02, 2006

Elinor Dashwood


"Elinor Dashwood, uma das heroínas de Sensibilidade e Bom Senso, está apaixonada, quase desde o início do livro, por Edward Ferrars, o irmão da sua horrível cunhada, Fanny. Edward é um jovem calado, tímido, discreto e inexperiente, que anos antes fora levado a ficar secretamente noivo de Lucy Steele, a sobrinha do seu tutor num colégio particular de Plymouth. Edward sabe há algum tempo que não está apaixonado por Lucy, mas por uma questão de honra sente-se obrigado a manter o noivado, apesar de se ter apaixonado por Elinor, que, a todos os níveis, é muito mais indicada para ele. Quando Elinor conhece Lucy, percebe de imediato que esta não está minimamente apaixonada por Edward, mas compreende que a honra de Edward o levará a cumprir a sua promessa de casamento; é incapaz de cometer a afronta de terminar o noivado e é também demasiado nobre para perceber que Lucy nada sente por ele. O único desejo de Lucy é casar com um homem – qualquer homem. Que ela julgue ter um rendimento suficiente para lhe permitir viver ao estilo a que ambiciona habituar-se.

Por conseguinte, tudo o que Elinor pode fazer é sentar-se e esperar, sem qualquer esperança para o futuro. Vive atormentada por Lucy, que pressente em Elinor uma rival e tudo faz para destruir as esperanças desta repetindo constantemente que ela, Lucy, está secretamente comprometida com Edward. Lucy, em boa verdade, está sempre com esquemas; torna-se amiga de Fanny e depois revela-lhe o noivado. Fanny reage muito mal e corre a contar à mãe. (…) [que o deserda a favor do irmão Robert]

[Lucy] foge agora com o abastado Robert, em vez de continuar presa ao pobretanas do Edward. Edward, um homem de Igreja, recebe uma casa paroquial do coronel Brandon, que acabará por casar com Marianne, a irmã de Elinor; e assim que Edward se vê livre de Lucy, e com um rendimento, embora não muito grande, que lhe permite sustentar uma mulher, corre a pedir a mão de Elinor em casamento, e pouco depois eles tornam-se «um dos casais mais felizes do mundo»"


Lauren Henderson, em "Amor e Sedução segundo Jane Austen"