quinta-feira, novembro 30, 2006

Entramos num mundo com um grito;
deixamo-lo com um suspiro.
Entre esses dois momentos extremos,
a palavra parece ser o princípio e o fim da nossa vida.
(...) Pela palavra amamos, pela palavra odiamos.
Pela palavra abençoamos e condenamos.
Pela palavra prometemos
e nos comprometemos.
Pela palavra justificamos e mentimos.
Receamos e encorajamos.
Insinuamos e ofendemos.
Desculpamos e perdoamos.
Pela palavra construimos.
Pela palavra nos emocionamos,
pela palavra nos encontramos
e nos desencontramos.
Pela palavra matamos,
pela palavra vivemos.
Gomes (1993)

quarta-feira, novembro 29, 2006

Segue o teu destino

Segue o teu destino

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te. A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.


Ricardo Reis

quarta-feira, novembro 22, 2006

Já não me importo

Já não me importo

Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.

Fernando Pessoa

sábado, novembro 18, 2006

O passado e o presente murcham...

"O passado e o presente murcham... Já os enchi e esvaziei,
E vou encher a minha prega futura.

Ei, tu que me ouves aí em cima! Que tens a dizer-me?
Olha-me no rosto enquanto respiro a tarde,
(Fala com franqueza, mais ninguém te ouve, e eu só fico mais um minuto).

Contradigo-me?
Muito bem, então contradigo-me,
(Sou imenso, contenho multidões).

Dirijo-me aos que estão perto, espero no umbral.

Quem fez o trabalho do dia? Quem acabará primeiro a sua ceia?
Quem quer passear comigo?

Falarás antes de me ir embora? Tirarás a prova demasiado tarde?"

Walt Whitman

Vivas pelos vencidos!

"Com a estrondosa música venho, com as minhas cornetas e tambores,
Não só toco marchas para os vencedores aclamados, também as toco para os
conquistados e abatidos.

Ouviste dizer que foi bom vencer?
Também te digo que é bom perder, as batalhas perdem-se com o mesmo
espírito com que se ganham.

Toco e volto a tocar pelos mortos,
Sopro por eles a minha mais alta e alegre melodia.

Vivas pelos vencidos!
E por aqueles cujos vasos de guerra se afundaram no mar!
E pelos náufragos também!
E por todos os generais que perderam e por todos os vencidos heróis!
E pelos inumeráveis heróis desconhecidos iguais aos maiores heróis
conhecidos!"

Walt Whitman

terça-feira, novembro 14, 2006

Dádiva

Dois homens, ambos gravemente doentes, estavam no mesmo quarto de hospital.Um deles podia sentar-se na sua cama durante uma hora, todas as tardes, para que os fluidos circulassem nos seus pulmões. A sua cama estava junto da única janela do quarto. O outro homem tinha de ficar sempre deitado de costas.
Os homens conversavam horas a fio. Falavam das suas mulheres, famílias, das suas casas, dos seus empregos, dos seus aeromodelos, onde tinham passado as férias...
E todas as tardes, quando o homem da cama perto da janela se sentava, passava o tempo a descrever ao seu companheiro de quarto todas as coisas que conseguia ver do lado de fora da janela. O homem da cama do lado começou a viver à espera desses períodos de uma hora, em que o seu mundo era alargado e animado por toda a actividade e cor do mundo do lado de fora da janela.
A janela dava para um parque com um lindo lago. Patos e cisnes, chapinhavam na água enquanto as crianças brincavam com os seus barquinhos. Jovens namorados caminhavam de braços dados por entre as flores de todas as cores do arco-íris. Árvores velhas e enormes acariciavam a paisagem e uma tênue vista da silhueta da cidade podia ser vislumbrada no horizonte. Enquanto o homem da cama perto da janela descrevia isto tudo com extraordinário pormenor, o homem no outro lado do quarto fechava os seus olhos e imaginava as pitorescas cenas.
Um dia, o homem perto da janela descreveu um desfile que ia apassar:Embora o outro homem não conseguisse ouvir a banda, conseguia vê-la e ouvi-la na sua mente, enquanto o outro senhor a retratava através de palavras bastante descritivas.
Dias e semanas passaram. Uma manhã, a enfermeira chegou ao quarto trazendo água para os seus banhos, e encontrou o corpo sem vida do homem perto da janela, que tinha falecido calmamente enquanto dormia.
Ela ficou muito triste e chamou os funcionários do hospital para que levassem o corpo. Logo que lhe pareceu apropriado, o outro homem perguntou se podia ser colocado na cama perto da janela. A enfermeira disse logo que sim e fez a troca. Depois de se certificar de que o homem estava bem instalado, a enfermeira deixou o quarto.
Lentamente, e cheio de dores, o homem ergueu-se, apoiado no cotovelo, para contemplar o mundo lá fora. Fez um grande esforço e lentamente olhou para o lado de fora da janela que dava, afinal, para uma parede de tijolo!
O homem perguntou à enfermeira o que teria feito com que o seu falecido companheiro de quarto lhe tivesse descrito coisas tão maravilhosas do lado de fora da janela. A enfermeira respondeu que o homem era cego e nem sequer conseguia ver a parede. Talvez quisesse apenas dar-lhe coragem...

Moral da História: Há uma felicidade tremenda em fazer os outros felizes, apesar dos nossos próprios problemas. A dor partilhada é metade da tristeza, mas a felicidade, quando partilhada, é dobrada.
Se te queres sentir rico, conta todas as coisas que tens que o dinheiro não pode comprar. O dia de hoje é uma dádiva, por isso é que o chamam de presente!

autor desconhecido

quinta-feira, novembro 09, 2006

SOS CRIANÇA

O meu nome é ""Sara""
Tenho 3 anos
Os meus olhos estão inchados,
Não consigo ver.

Eu devo ser estúpida,
Eu devo ser má,
O que mais poderia pôr o meu pai em tal estado?

Eu gostaria de ser melhor,
Gostaria de ser menos feia.
Então, talvez a minha mãe me viesse sempre dar miminhos.

Eu não posso falar,
Eu não posso fazer asneiras,
Senão fico trancada todo o dia.

Quando eu acordo estou sozinha,
A casa está escura,
Os meus pais não estão em casa.

Quando a minha mãe chega,
Eu tento ser amável,
Senão eu talvez levaria
Uma chicotada à noite.

Não faças barulho!
Acabo de ouvir um carro,
O meu pai chega do bar do Carlos.

Ouço-o dizer palavrões.
Ele chama-me..
Eu aperto-me contra o muro.

Tento-me esconder dos seus olhos demoníacos.
Tenho tanto medo agora,
Começo a chorar.

Ele encontra-me a chorar,
Ele atira-me com palavras más,
Ele diz que a culpa é minha, que ele sofra no trabalho.

Ele esbofeteia-me e bate-me,
E berra comigo ainda mais,
Eu liberto-me finalmente e corro até à porta.

Ele já a trancou.
Eu enrolo-me toda em bola,
Ele agarra em mim e lança-me contra o muro.

Eu caio no chão com os meus ossos quase partidos,
E o meu dia continua com horríveis
palavras...

"Eu lamento muito!", eu grito
Mas já é demasiado tarde
O seu rosto tornou-se num ódio inimaginável.

O mal e as feridas mais e mais,
"Meu Deus por favor, tenha piedade!
Faz com que isto acabe por favor!"

E finalmente ele pára, e vai para a porta,
Enquanto eu fico deitada,
Imóvel no chão.

O meu nome é "Sara"
Tenho 3 anos,
Esta noite o meu pai *matou-me*.

Existem milhões de crianças que assim como a "Sara" são mortos. E tu podes ajudá-los. E se porque tu ficaste sensibilizado(a), faz qualquer coisa!! Faz passar este poema porque mesmo se isto parece doido pode talvez mudar indirectamente as nossas vidas. Nunca se sabe.

(autor desconhecido)

quarta-feira, novembro 08, 2006

O milagre


O milagre! Quantos já ocorreram na minha vida! E outros que ficaram por se realizar...

O pior já passou e ainda está para vir. O melhor já passou e ainda está para vir. É assim a vida!

A fragilidade que se manifesta nos maus momentos, deixamo-nos cair quando a queda é maior ou caímos numa armadilha. Quebras de energia próprias do desgaste do choque. Mais tarde ou mais cedo, alguém nos ajuda a tratar das feridas e o tempo e os curativos acabam por secá-la, deixando "apenas" uma cicatriz que não nos impedirá de continuar a caminhar.

Reconstruir a casa destruída pela tempestade. Fazer obras, aplicar investimentos. E tudo parece novo e diferente!Igual nunca será!

Pensar em tudo, até no pormenor mais insignificante.

Buscar o infinito como um destino inevitável...


Sandra Bastos

Frases feitas

Mais do que dizer a palavra mágica é preciso senti-la!

Mais do que o corpo é o espírito que nos completa e eterniza!

Não sei amar de outra forma...

Até quando?

As imagens que me perseguem ou palavras que me sufocam por não conseguirem soltar-se. A respiração ansiosa... Algo que não sai, fica entalado na garganta.

Muito trabalho, falta de tempo... até quando?

Quero soltar as amarras, deixar sair tudo o que me oprime. Procurar o infinito com a certeza de que nunca o vou encontrar mas ficarei cada vez mais longe daquilo que me limita.

Sandra Bastos

De regresso...

Após mais de um mês afastada do blogue por motivos de trabalho, estou de regresso...

Não escreverei com a frequência desejada mas vou tentar ser mais constante.

Para trás ficou um mês recheado de intensas experiências a nível profissional.

Até já...