domingo, janeiro 28, 2007

O Ramalhete (Os Maias)

Fatalismo mulçumano

"Era o fatalismo mulçumano. Nada desejar e nada recear... Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu, ir-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo".

Eça de Queirós, em "Os Maias"

marchando um para o outro

" - Carlinhos da minha alma, é inútil que ninguém ande à procura da "sua mulher". Ela virá. Cada um tem a "sua mulher" e necessariamente tem de a encontrar. (...) estais ambos insensivelmente, irresistivelmente, fatalmente, marchando um para o outro!"

Eça de Queirós, em "Os Maias"

A Gouvarinho

"Está hoje chique a valer a Gouvarinho! E a pedir homem!"


Eça de Queirós, em "Os Maias"

A velhice

"E afastou-se, todo dobrado sobre a bengala, vencido enfim por aquele implacável destino que, depois de o ter ferido na idade da força com a desgraça do filho - o esmagava ao fim da velhice com a desgraça do neto."

Eça de Queirós, em "Os Maias"

domingo, janeiro 21, 2007

Anthem

A propósito do post anterior (alma perdida), acrescento Anthem do musical Chess...

Uma alma perdida

Uma alma perdida, um ser submerso no efémero, no fútil, naquilo que se esvanece ao segundo deixando pendurado um vazio permanente, calcado pela agitação de um quotidiano exigente.

Sandra Bastos
Dezembro 2006

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Mário Cesariny


A ti Cesariny!

Mário Cesariny de Vasconcelos
Nasceu em Lisboa em 1923. Este pintor poeta foi, em 1947, co-fundador do Grupo Surrealista de Lisboa, no qual se manteve pouco tempo, formando, mais tarde, o novo grupo 'Os Surrealistas'. As suas obras como pintor estão representadas na Fundação Gulbenkian, e como escritor publicou diversas obras.
Exercício Espiritual
É preciso dizer rosa em vez de dizer ideia
é preciso dizer azul em vez de dizer pantera
é preciso dizer febre em vez de dizer inocência
é preciso dizer o mundo em vez de dizer um homem

É preciso dizer candelabro em vez de dizer arcano
é preciso dizer Para Sempre em vez de dizer Agora
é preciso dizer O Dia em vez de dizer Um Ano
é preciso dizer Maria em vez de dizer aurora

de Manual de Prestidigitação, Assírio e Alvim

quarta-feira, janeiro 17, 2007

António Ramos Rosa


Tributo a António Ramos Rosa

António Ramos Rosa
Nasceu em Faro em 1924 onde passou a sua juventude. Veio para Lisboa e depressa se dedicou completamente às letras. Tem recebido numerosos prémios nacionais e estrangeiros, entre os quais o Prémio Pessoa, em 1988. Para Ramos Rosa, escrever é, sempre, a necessidade de respirar as palavras e de às palavras fornecer o frémito do ser, os pulmões do sonho, e, com elas, criar a dádiva do poeta. Em 2001, o poeta lançou Antologia Poética, com prefácio e selecção de Ana Paula Coutinho Mendes."
Poema dum Funcionário Cansado
A noite trocou-me os sonhos e as mãos
dispersou-me os amigos
tenho o coração confundido e a rua é estreita
estreita em cada passo
as casas engolem-nos
sumimo-nos
estou num quarto só num quarto só
com os sonhos trocados
com toda a vida às avessas a arder num quarto só.
Sou um funcionário apagado
um funcionário triste
a minha alma não acompanha a minha mão
Débito e Crédito Débito e Crédito
a minha alma não dança com os números
tento escondê-la envergonhado
o chefe apanhou-me com o olho lírico na gaiola do quintal em frente
e debitou-me na minha conta de empregado
Sou um funcionário cansado dum dia exemplar
Por que não me sinto orgulhoso de ter cumprido o meu dever?
Por que me sinto irremediavelmente perdido no meu cansaço?
Soletro velhas palavras generosas
Flor rapariga amigo menino
irmão beijo namorada
mãe estrela música
São as palavras cruzadas do meu sonho
palavras soterradas na prisão da minha vida
isto todas as noites do mundo numa só noite comprida
num quarto só.

terça-feira, janeiro 16, 2007

Miguel Torga


Que seria eu sem ti Miguel Torga?!

"O HOMEM é, por desgraça, uma solidão:
Nascemos sós, vivemos sós e morremos sós."
Miguel Torga

Súplica
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Sophia de Mello Breyner Anderson


Tributo a Sophia de Mello Breyner Andresen

Poeta portuguesa - com mais de 80 anos. Considerada por muitos como a maior poeta contemporânea de Portugal; vencedora do prémio Camões de literatura (1999).

Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto em 6 de Novembro de 1919. Foi nessa cidade e na Praia da Granja que passou a sua infância e juventude. Frequentou Filologia Clássica na Universidade de Lisboa, mas não chegou a terminar o curso. Foi casada com o jornalista Francisco Sousa Tavares e mãe de cinco filhos, que a motivaram a escrever contos infantis. Motivos concretos e símbolos excepcionais para cantar o amor e o trágico da vida foi-os buscar ao mar e aos pinhais que contemplou na Praia da Granja; com a sua formação helenística, encontrou evocações do passado para sugerir transformações do futuro; pela sua constante atenção aos problemas do homem e do mundo, criou uma literatura de empenhamento social e político, de compromisso com o seu tempo e de denúncia da injustiça e da opressão. Foi agraciada com o Premio Camões em 1999.

Obras poéticas: Poesia (1944), Dia do Mar (1947), Coral, (1950), No Tempo Dividido, (1954), Mar Novo (1958), Livro Sexto (1962) Geografia (1967), Dual (1972), Nome das Coisas (1977), Musa (1994), etc. Obras narrativas: O Cavaleiro da Dinamarca, Contos Exemplares, Histórias da Terra e do Mar, A Floresta, A Menina do Mar, O Rapaz de Bronze, A Fada Oriana, etc.
O poema do dia:
Hora
Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora.
Sonoro e profundo
Aquele mundo
Que eu sonhara e perdera
Espera
O peso dos meus gestos.
E dormem mil gestos nos meus dedos.
Desligadas dos círculos funestos
Das mentiras alheias,
Finalmente solitárias,
As minhas mãos estão cheias
De expectativa e de segredos
Como os negros arvoredos
Que baloiçam na noite murmurando.
Ao longe por mim oiço chamando
A voz das coisas que eu sei amar.
E de novo caminho para o mar.
Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, janeiro 14, 2007

Grandes Escritores e Poetas Portugueses

A propósito do programa da RTP "Os Grandes Portugueses", lanço o desafio aos nossos visitantes e também a nós mesmas de apontar os Grandes Escritores e Poetas Portugueses... Apenas uma justa homenagem.

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Irene Lisboa


Tributo a Irene Lisboa

Irene do Céu Vieira Lisboa
nasceu no Casal da Murzinheira, Arruda dos Vinhos, em 1892. Formou-se pela Escola Normal Primária de Lisboa e fez estudos de especialização pedagógica na Suíça, França e Bélgica. Foi um dos nomes mais importantes da "escrita feminina" portuguesa do século XX. O seu primeiro livro foi 13 Contarelos, ao qual se seguiram dois livros de poesia. A sua obra reparte-se entre a ficção intimista e autobiográfica, a crónica, o conto, a poesia, a pedagogia e a crítica literária. Faleceu em 1958.

Poema do dia:

Escrever
Se eu pudesse havia de... de...
transformar as palavras em clava!
havia de escrever rijamente.
Cada palavra seca, irressonante!
Sem música, como um gesto,
uma pancada brusca e sóbria.
Para quê,
mas para quê todo o artifício
da composição sintáctica e métrica,
este arredondado linguístico?
Gostava de atirar palavras.
Rápidas, secas e bárbaras: pedradas!
Sentidos próprios em tudo.
Amo? Amo ou não amo!
Vejo, admiro, desejo?
Ou não... ou sim.
E, como isto, continuando...

E gostava,
para as infinitamente delicadas coisas do espírito
(quais? mas quais?)
em oposição com a braveza
do jogo da pedrada,
da pontaria às coisas certas e negadas,
gostava...
de escrever com um fio de água!
um fio que nada traçasse...
fino e sem cor... medroso...
Ó infinitamente delicadas coisas do espírito...
Amor que se não tem,
desejo dispersivo,
sofrimento indefinido,
ideia incontornada,
apreços, gostos fugitivos...
Ai, o fio da água,
o próprio fio da água poderia
sobre vós passar, transparentemente...
ou seguir-vos, humilde e tranquilo?

quinta-feira, janeiro 11, 2007

António Gedeão/Rómulo de Carvalho


Tributo a Rómulo de Carvalho


António Gedeão
Nascimento: 1906 Lisboa
Morte:1997

Poeta, professor e historiador da ciência portuguesa. António Gedeão, pseudónimo de Rómulo de Carvalho, concluiu, no Porto, o curso de Ciências Físico-Químicas, exercendo depois a actividade de docente. Teve um papel importante na divulgação de temas científicos, colaborando em revistas da especialidade e organizando obras no campo da história das ciências e das instituições, como A Actividade Pedagógica da Academia das Ciências de Lisboa nos Séculos XVIII e XIX. Publicou ainda outros estudos, como História da Fundação do Colégio Real dos Nobres de Lisboa (1959), O Sentido Científico em Bocage (1965) e Relações entre Portugal e a Rússia no Século XVIII (1979). Revelou-se como poeta apenas em 1956, com a obra Movimento Perpétuo. A esta viriam juntar-se outras obras, como Teatro do Mundo (1958), Máquina de Fogo (1961), Poema para Galileu (1964), Linhas de Força (1967) e ainda Poemas Póstumos (1983) e Novos Poemas Póstumos (1990). Na sua poesia, reunida também em Poesias Completas (1964), as fontes de inspiração são heterogéneas e equilibradas de modo original pelo homem que, com um rigor científico, nos comunica o sofrimento alheio, ou a constatação da solidão humana, muitas vezes com surpreendente ironia. Alguns dos seus textos poéticos foram aproveitados para músicas de intervenção. Em 1963 publicou a peça de teatro RTX 78/24 (1963) e dez anos depois a sua primeira obra de ficção, A Poltrona e Outras Novelas (1973). Na data do seu nonagésimo aniversário, António Gedeão foi alvo de uma homenagem nacional, tendo sido condecorado com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago de
Espada.

A minha escolha:

Dez réis de esperança
Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos à boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule,
flutuando no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Florbela Espanca


Tributo a Florbela Espanca

QUANDO TUDO ACONTECEU...

1894: A 8 de Dezembro, nasce Florbela Espanca em Vila Viçosa. - 1915: Casa com Alberto Moutinho. - 1919: Entra na Faculdade de Direito, em Lisboa. - 1919: Primeira obra, Livro de Mágoas. – 1923: Publica o Livro de Soror Saudade. – 1927: A 6 de Junho, morre Apeles, irmão da escritora, causando-lhe desgosto profundo. - 1930: Em Matosinhos, Florbela põe fim à vida. - 1931: Edição póstuma de Charneca em Flor, Reliquiae e Juvenilia e ainda das colectâneas de contos Dominó Negro e Máscara do Destino. Reedições dos dois primeiros livros editados. Verdadeiro começo da sua visibilidade generalizada.

Obra

Da sua obra apenas dois títulos foram publicados em vida:
Livro de Mágoas (1919),
Livro de Sóror Saudade (1923)

Postumamente foram publicadas as obras:

Charneca em Flor (1930),
Cartas de Florbela Espanca, por Guido Battelli (1930),
Juvenília (1930),
As Marcas do Destino (1931, contos),
Cartas de Florbela Espanca, por Azinhal Botelho e José Emídio Amaro (1949)
Diário do Último Ano Seguido De Um Poema Sem Título, com prefácio de Natália Correia (1981).
O livro de contos Dominó Preto ou Dominó Negro, várias vezes anunciado (1931, 1967), seria publicado em 1982.
A aquisição e tratamento (de parte) do espólio por Rui Guedes possibilitou uma nova edição, mais completa e fiável da sua obra.

A minha escolha:

Tarde de mais...

Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar;
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...

Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer!

Beijando a areia de oiro dos desertos
Procurara-te em vão! Braços abertos,
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!

E há cem anos que eu era nova e linda!...
E a minha boca morta grita ainda:
Porque chegaste tarde, ó meu Amor?!...

Florbela Espanca

domingo, janeiro 07, 2007

Moulin Rouge

A Vida é Bela

O Fantasma da Ópera (Christine & Raoul)

As mais belas histórias de amor...

Sendo o amor o bem mais precisoso que levamos desta vida, escolhi as minhas cenas preferidas de grandes histórias de amor...

terça-feira, janeiro 02, 2007

em ti...

Esta música mais do que pensar em ti faz-me sentir. Não sei o quê, como, onde, quando nem porquê... Apenas sinto... por ti.